17/08/2010

Capítulo VIII

Um dia Xavier recebeu um Ipod. Uma espécie de leitor de CDs, sem CDs e muito mais pequeno. Diz-que lá dentro cabiam muitos CDs.

Xavier não gostava muito de música. Aliás, Xavier não parecia gostar muito de nada, excepto de Peter O, seguia-o para todo lado!

Xavier era o melhor amigo de Peter O.

Peter O rapidamente se apoderou do "tal Ipod". Peter O nunca tinha "ouvido música", pelo menos nunca daquela música.

Peter O ficava horas seguidas a ouvir música. Não queria mais jogar jogar raquetes, apenas ouvir aquela música.

Por vezes, quando Peter O estava a ouvir música, lágrimas caíam sem propósito dos seus olhos. Xavier fazia troça de Peter O quando isto acontecia… parecia uma menina, sempre a chorar!

Peter O não percebia porque lhe caíam lágrimas a ouvir certas músicas. Peter O sabia, que essas eram as suas músicas favoritas.

Capítulo VII

Peter O achou o enterro do Padre Aza muito divertido!

Todas falavam de como contribuía para a comunidade e de como o seu pão era delicioso.

Peter O pensava: "delicioso???… nunca irei ser padeiro, mata!"

Peter O aí tomou umas das mais importantes decisões da sua vida, nunca mais comer pão.

Peter O sabia que morrer não era bom, porque quando alguém morre, muita gente chora. E quando muita gente chora, nunca é bom.

Peter O não chorou quando o Padre Aza morreu. Peter O tentou chorar, mas não conseguia! Peter O mal conseguia aguentar uma gargalhada, sempre que pensava no Padre Aza a morrer engasgado… com pão.

A imagem do Padre Aza Com uma "baguette"…

Capítulo VI

Um dia o Padre Aza teve um acidente. O Padre Aza era o responsável pelo pão e por todas as refeições do colégio.

Peter O estava a jogar raquetes com o seu amigo Xavier, quando o Padre Ros os chamou: "O Padre Aza teve um acidente!", Peter O permaneceu impávido, talvez estivesse me choque: "Morreu…" Xavier perguntou incrédulo: "como?", Peter O continuou impávido, "Entalado com um pedaço de pão, sufocado".

Peter O continuava de rosto imaculado. Não sabia como reagir. Toda a situação era demasiado cómica para chorar… Então?… rir? talvez fosse melhor não, já lhe tinha trazido problemas antes. Peter O sabia que, em caso de dúvida nunca devia rir.

Peter O perguntou com que tipo de pão havia sido o acidente. Não teve resposta. Imaginou que fosse com uma "baguette", por causa do formato.

Xavier chorou e o Padre Ros disse aos meninos para se irem vestir para o velório…

Peter O perguntou, porque não podiam continuar a jogar raquetes???

O Padre Ros rosnou autoritariamente para Peter O.

Foi a primeira vez que o Padre Ros se zangou com Peter O.

Capítulo V

O Padre Ros dedicou-se mesmo à educação de Peter O. "Pobre rapaz, perdeu o pai", dizia em conversas no refeitorio.

O Padre Ros tinha a certeza, que Peter O não havia sido abandonado. "Não era possível", algo havia de ter acontecido ao Senhor O.

Peter O tinha a certeza, de ter sido abandonado!

Peter O tinha apreendido a sentir, sabia quando chorar, rir, fazer cara séria e como parecer tímido. Por vezes falhava ligeiramente os tempos, mas era um bom aprendiz de humanidade.

Peter O sabia que, apenas parecendo humano não seria abandonado pelo Padre Ros, como havia sido pelo Senhor O.

Peter O não queria ser abandonado outra vez!

Capítulo IV

Peter O tem amigos.

Peter O era bastante popular no colégio, era bom em desporto e excelente aluno. Os professores perguntavam-se, porque teria o Senhor O abandonado tão promissor rapaz!

Peter O era mesmo bom a matemática. Especialmente em contas de subtrair…

Várias vezes o Padre Ros tentou ligar ao Senhor O, para vir buscar o seu filho: "Ele sente a sua falta", gravava repetidamente no falecido voice mail do Senhor O. Talvez tivesse perdido o telemóvel! Ou talvez tivesse mesmo morrido. Estranho não o ter lido no jornal!

Capítulo III

Peter O não tem amigos.

Durante os primeiros três anos, o Senhor O ia buscar Peter O, todos os fins de semana.

Quando chegava ao colégio ficava a olhar fixamente para Peter O, como que à procura de alguma coisa, passados alguns segundos, desiludido, franzia as sobrancelhas e lá iam para casa.

Peter O nunca levou um amigo para casa ao fim de semana. Peter O tinha amigos, só não queria convidá-los. O Senhor O, que já achava que o seu filho não tinha sentimentos, achava agora também que ele não tinha amigos. Que desilusão!

Um Sábado qualquer, o Senhor O esqueceu-se de aparecer para buscar Peter O. Nunca mais se lembrou!

Passado pouco tempo, Peter O também se esqueceu do Senhor O.

Capítulo II

Peter O não tem sentimentos.

Passados alguns dias, o tio Bib e a tia Tin foram visitar os pais de Peter O.

"Peter, queremos falar com os teus pais, é sobre o acidente"

Os pais de Peter O tentaram pô-lo a milhas, mas Peter O bem que viu e ouviu tudo o que conseguiu.

"O vosso filho não é normal, ele nem reagiu" dizia o tio Bib. "Vocês estão aqui a criar um psicopata, como aqueles dos filmes americanos" dizia a tia Tin. "Têm que o levar a um psiquiatra! Interná-lo!"

A mãe de Peter O, a Senhora O aproxima-se da janela a tremer e a chorar.
A Senhora O cai de repente, redonda, no chão. O Senhor O aproxima-se rapidamente, abana a mulher gritando pelo seu nome várias vezes, "Senhora O!, SENHORA O!" mas nada. Não havia reacção.

Peter O entra na sala calmamente e pergunta ao Pai, "o que aconteceu à mãe?" Peter O não teve resposta.

Peter O veio a saber, alguns dias mais tarde, que a sua mãe tinha caido, porque estava "em viagem para o céu", dizia o Senhor O.

A Tia Tin parecia discordar, achava que que a Senhora O iria, na melhor das hipóteses, para um tal de purgatório. "Afinal aquilo que ela fez ao marido não se faz a ninguém".

O Senhor O resolveu internar Peter O num colégio, religioso e interno.

Foi a uma segunda-feira, em Setembro, levar Peter O pela primeira vez às aulas, "pode ser que os Padres te ensinem a sentir, ou pelos menos te dêem bons valores, de forma a poderes existir com bondade, sem teres que sentir".

O Senhor O achava Peter O incapaz de sentimentos...

Capítulo I

Peter O tinha apenas nove anos de idade, quando disse pela primeira vez: "Atropela aquela, está grávida, vale vinte pontos!"

Peter O estava no carro com o tio Bib e a tia Tin, iam à praia.

Os tios de Peter O olharam para o banco de trás, em choque. "Como podia uma criança dizer tamanha barbaridade?", pensavam em uníssono.

A grávida safou-se, mas o tio Bib acabou por atropelar uma senhora de idade, que passeava um horrendo e despenteado cocker spaniel.

Peter O riu-se e gritou entusiamado, "doze pontos!". Foi um reflexo.

A tia Tin começou a chorar desenfreadamente, o tio Bib estava em estado de choque, Peter O não lhe ouviu nem mais uma palavra durante esse dia.

A velha morreu, mas o cão ficou intacto. O tio Bib e a tia Tin adoptaram o pequeno ser, talvez com problemas de consciência.

Peter O e os tios, nesse dia, não foram à praia.

O tio Bib nunca mais convidou Peter O para ir à praia.